Já
me chamaram de tanta coisa, que não me importo mais. Quiçá ligo lá
para o que dizem. Dia desses porém, um outrem qualquer me avistou de
longe na rua. Um desses moradores de rua, que mal tem o que comer,
mas muito a ensinar.
-
Meu caro, tu tens um jeito tão teu...
Fiquei
assustado prontamente. Nunca vi tal senhor na rua, e
despretensiosamente ele solta uma dessas para mim. Ora lá, quem és
tu pra falar aos quatro ventos quem sou e como sou? Notando minha
estranheza na face, tal senhor prontamente se pôs a falar.
-
Não há de que ficar assim, assustado com o que eu disse. - O
humilde senhor me falou. - Não falei por mal, nem para causar
confusão. Falei por que acho mesmo.
- E
por que chegastes a tal conclusão? - Perguntei. - Nunca me há de
ter notado a tua presença por aqui, onde passo diariamente. Tu
sempre estás aqui?
- Tu
não me vê, por que estás avoado demais em teus pensamentos. Alias,
tu mal reparas em alguém além dela. Quem é ela?
O
que? Mas como assim tal senhor sabia da existência dela? Penso que
nunca comentei nada com ninguém além de poucos amigos, e de longe
tal senhor não parecia fazer parte da mesma roda de amigos e
conhecidos à que faço.
- O
que tu... como tu sabes disto? - Perguntei espantado. - O que tu
sabes dela? O que tu sabes de mim?
- De
ti, sei o que vejo diariamente. Sei que tu te vestes de um jeito
despojado, quase único. Sei que andas com tanta certeza de que o
amanhã não existe, porém se vive do hoje. Sei que a muito procuras
por alguém em algum canto, e te esbarra nas pessoas quando te perde
em pensamentos. Sei que escreves, pois não raro tu passas com um
bloco de anotações no bolso de trás e um lápis apontado as
pressas na orelha direita. Sei que tu anseias por algo próspero no
futuro, mas tanto quanto anseia, vives do presente. Teus passos, por
dias calmo e confortantes, nos outros se reflete em alguém com
pressa, creio eu para encontra-la em algum lugar.
Acho
que, no exato momento, fiquei abismado. Como um senhor, que
aparentemente tão pobre de posses, tinha tanta riqueza na cabeça?
Como ele enxergava tão poucos detalhes, e se apossava de tão
grandes certezas? Certezas essas, absolutas.
-
E o que sabes sobre ela? - Perguntei, ainda com a mesma cara que fiz
quando ouvi as poucas verdades. Mas não esperei uma resposta
concreta, até por que eu pouco sabia. Sabia nada mais além de seu
nome, de onde era e onde poderia encontra-la.
-
Meu caro. Sobre isso infelizmente nada sei, até por que o pouco que
sabes, mal me deixa entender. Mas me diga, tu não estás atrasado?
Vá ao encontro dela, não sei por quanto tempo mais ela te espera, e
me desculpa por te alugar.
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