terça-feira, 19 de junho de 2012


Com amor, para Anne.

Eu estava ali deitado com Anne, e só me vinha uma coisa na cabeça. Olhe para o céu, é o que eu pensava. Por que diabos você não consegue olhar para o céu? E ela abria a boca e falava sobre suas joias, vestidos, vidas, riquezas. Resumindo, Anne não falava sobre nada. É o que dizem por ai, que o homem mais pobre é aquele que coleciona riquezas. E eu concordo.

Anne tinha uma beleza diria que indiscutível, e não apenas para mim. Qualquer homem, tenha ele 15 anos ou 80 diria a mesma coisa. Particularmente eu sou um bom escritor, porém, não um bom observador e muito menos um bom descrevedor da beleza alheia. Deixo que vocês imaginem Anne do jeito que vocês quiserem, com o tanto que usem de referência a mulher mais bela que existe.

Não digo que Anne não tinha defeitos, até por que seria injusto com ela. Seria injusto com a sua mulher mais bela. Mas havia algo em Anne que me irritava profundamente. Algo que me irrita em todos os homens, mulheres, porém especialmente em Anne: sua necessidade de contar vantagem.

Ah, era tanta riqueza, tanta beleza, tanta futilidade unida em uma só boca. Já disse antes, algumas vezes, que não suportava aquilo. E realmente, aquele não era o momento de Anne abrir a boca para falar tanta besteira. Estávamos nós dois deitados no gramado em frente a minha casa, eu tinha oito anos, Anne sete.

Ok, eu sei que ela não falava aquelas besteiras por que queria. Era da idade dela querer falar por ai, ao vento. Ela estava conhecendo a vida, essa era Anne. Por mais que me irritava o fato de ela querer contar vantagem, tinha algo nela além da beleza que me prendia. Me fazia querer deitar com ela e olhar estrelas no gramado de casa. E isso era tudo que eu precisava naquele dia, naquele mês, naquela idade.

Ela abriu a boca e começou a falar de suas novas bonecas que havia ganhado, as bonecas que seu pai trouxera da viagem que fez no último mês para São Paulo. Nesse exato momento eu me sentei, olhei nos olhos de Anne, peguei sua mão e coloquei em frente a sua boca. Acho que forte demais, por que ela começava a fazer aquela cara de choro, como faz toda criança.
  • Anne, não chore. Não agora. - Eu disse, encarando aqueles pequenos olhos.
  • Por que você fez... - Ela parou de falar quando pressionei um pouco mais a mão contra sua boca.
Deitei novamente na grama, e apontei pro céu.
  • Você já contou quantas estrelas tem ali? - Perguntei para Anne.
  • Não, quantas são?
  • Não sei, mas tenho certeza que são muitas mais do que todas as bonecas, todas as joias e vestidos que você, sua mãe e seu pai tem.
  • Será? Mas, são tantas as coisas que tenho! Um dia meu pai me falou que... - então eu tapei sua boca novamente, mesmo deitado, sem olhar.
  • Não fale Anne, vamos contar, por favor.
Anne então se sentou, olhou para mim, assentiu com a cabeça sem falar nada, e se deitou novamente.
A partir daquele dia, toda noite, deitávamos na grama para contar estrelas. Ao menos todas as noites até onde eu lembro.
Sabe aquele dia em que você pensa em escrever, as linhas se confundem, as letras se confundem, sua cabeça se confunde, porém sua mão fica estaticamente parada.
Por mais que se passaram meses de que não escrevo nada, por mais motivado que eu esteja a escrever algo, parece que tudo se confunde, menos a minha mão.
Dizem por ai que faz frio, outros dizem que não. Eu só digo que sinto falta da minha mão pra poder rabiscar sobre o frio ou não.
Sentir falta de ideias é tão... sei lá, é pior que ficar 5 minutos encarando um pedaço de papel pra só fazer aparecer gotas de tinta aleatória.
Preciso ler, minha mente anda tão vazia atualmente.
Tchau.