No embalo do vento vou brincando de roda. Vou sentindo o sopro me varrendo as lágrimas d'alma. E ao amanhã eu digo: vem, me aqueça.

'Hoje o sol acordou, e me acordou. Ele veio tímido, de certa forma. As nuvens formavam um obstáculo tão simples, mas ao mesmo tempo aconchegante. De longe, senti o cheiro do café. De longe senti o cheiro do orvalho da manhã, que evaporava com o calor matinal. Calor esse que repousava nos campos floridos logo ao lado, mas que hoje vieram e me aqueceram e me acordaram, despertaram para o dia.
Sinto sono, fome de vida. Sinto o fino fio frio da navalha cortar o meu rosto como o vento cortante do inverno o faz. Mas hoje o sol me aqueceu, me acordou e me confortou entre seus braços.'
E assim adormeci...

Tic tac, tac tic. O relógio me chama para mais perto da realidade. E a realidade me chama para mais perto do inferno. A presença do tempo me assusta. Ele tenta me puxar para a realidade, não me garante sossego, me leva mais longe dos sonhos.
Infelizmente acordei. O dia parecia frio, mesmo com sol. O vento que soprava lá fora levou embora os meus sonhos. Me resta agora saber onde eles irão pousar, e ir buscá-los.